Leitura: O Jogo de Opiniões
O símbolo do herói moderno ao meu ver deveria ser Ulisses, rei de Ítaca, por ter inventado o
Cavalo de Tróia
em cujo ventre se esconderam soldados que à noite abriram as portas da cidade. Porque seria Ulisses o portador de valores básicos que se exigiria de uma sociedade moderna
mentira e astúcia.
Retraduzindo essas palavras, para dar mínimos de dignidade, astúcia passa a ser a
capacidade de encontrar o ponto de equilíbrio entre forças contrárias
enquanto mentir significa
"habitar a distância que separa a aparência e realidade";
e, também,
escapar da ingenuidade e também da maldade (reforço aqui: mais da maldade) dos que acreditam que as coisas são, sempre, o que aparentam ser".
É aquela velha história de se tirar pré-conclusões alheias, falar do próximo sem conhecimento de causa. Dá para concluir que com Ulisses inaugura-se a dupla realidade, dupla personalidade ou o nome que queiram dar. Isto acontece com pessoas na oposição aparentemente inconciliável entre o hoje, o passado recente e o amanhã, já que soluções dadas, situações vividas ao que parece indispensável ou razoável no presente, serão capazes de comprometer irreversivelmente o futuro por pura tolice, desconhecimento de causa ou da própria história de Ulisses, da existência um dia da história de Tróia e dos valores que estavam embutidos num cavalo de madeira.