A outra parte

rabiscos...

Que a outra parte saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.

Que a outra parte note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não a amarei menos porque estou quieto.

Que a outra parte aceite que me preocupo com ela e não se irrite com minha solicitude e com meu cuidado com ela, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.

Que ela perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.

Que se eu faço uma bobagem que ela goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.

Que se estou apenas cansado que a outra parte não pense logo que estou nervoso, ou doente, ou agressivo, nem diga que reclamo demais.

Que a outra parte sinta quanto me dói a idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.

Que se estou numa fase ruim que ela seja minha cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''.

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, que ela não me exponha nem me ridicularize.

Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, que ela ainda assim me ache lindo e me admire.

Que ela não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensivo, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, ela entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, super-homem, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e glorioso, assustado e audacioso - uma pessoa que só quer aprender com sua outra parte.