Lúcia Salltorelli

Todo mundo sabe que existem mães e Mães. Sei que nós estamos na semana do dia das mães, mas não me antecipei no texto, apenas na homenagem.

Na verdade, sempre quis me antecipar. Quis nascer antes, a parteira disse pra minha mãe bater um papo comigo e dizer pra eu ficar quietinho e quentinho dentro da barriga dela por mais um tempo. E assim fiquei. Quando criança, queria ficar acordado até mais tarde, aquela pressa absurda em viver e aproveitar cada segundo.

Continuo assim: querendo muito, tudo, agora. Mas não vim pra falar de mim, vim pra falar da minha mãe.

Na hora da alegria, do medo, da farra e do aperto ela sempre esteve (e está) lá, mesmo em outro plano.

Minha mãe foi assim: estava lá pra todo mundo, ficava tão ligada a seus filhos que esquecia dela. Lúcia foi aquela amiga que segura a mão e o coração, o tipo de gente que você quer ter do lado pra rir e chorar junto.

Porque ela sempre foi assim.

Fez a gente rir da vida quando tudo está um caco e fez a gente chorar falando alguma coisa bonita em qualquer momento alegre.

Minha mãe sempre esteve comigo; tento lembrar de algum momento em que precisei dela e ela faltou e não lembro. Por isso, acostumei assim, com essa coisa boa de ter gente me segurando (tem coisa melhor que colo de mãe?).

Porque a gente precisa de alguém pra segurar a gente.

Minha mãe, que segurou todo mundo, sabe que não pude presentea-la com tudo que ela me pediu. Aquela nova colcha, a nova cortina, um simples pano de prato. Hoje estou aqui, aqui como sempre estive. Os tempos são outros mãe. Infelizmente.

Ela sempre quis proteger a gente. Eu e meus irmãos crescemos assim, protegidos da vida.

Meu pai queria abrir as portas, ela queria nos mostrar a vida da janela. Uma forma maternal e delicada de não querer que a gente sofresse, aprendesse na marra. Minha mãe, na ingenuidade dela, achava que a gente não precisava errar, se bater, se estrepar pra aprender.

Esse era um motivo de conflito lá em casa: ele queria nos soltar, ela não queria nos largar. Os pais, na verdade, sempre querem evitar que a gente se esborrache no chão.

Meu pai ficava de longe, controlando, vendo os passos. Minha mãe queria andar de mãos dadas e coração junto. Porque ela foi assim: pensou  com o coração e queria sempre estar ao lado de quem amava para controlar cada trajeto, pra ver se está tudo bem.

Um dia, depois de muitos anos, ela entendeu que por mais que tente a gente vai sofrer. A vida é assim, nem sempre é fácil e carinhosa com a gente. Um dia, ela entendeu que não dá pra fazer todo mundo feliz. Um dia, ela percebeu que nem sempre o outro vai retribuir o que você faz.

E eu espero, de verdade, que um dia, numa outra vida,  ela aprenda a se cuidar mais e melhor.

Porque só a gente pode olhar pra dentro e se perceber.

Feliz dia das mães, mãe. Te amo um amor maior que o mundo. Que a vida de todos os seus filhos, como bem queria,  seja feita de sorrisos e passos certos.

Mas, se por acaso, em algum momento houver um tropeço, a gente se segura. E segue.

Passei em frente a nossa casa.

Sintomas de que a amo ainda mais e uma certeza absurda da falta que me faz teu colo.

Te amo mãe.